Nas velhas ruas do Bairro Alto, são estreitas as vidas de quem o habita. Os sons e os cheiros misturam-se no ambiente de uma Lisboa típica.
Os edifícios dispõem-se no terreno inclinado, como peças únicas de um puzzle urbano cuja ordem foi dada pelo tempo e pelas necessidades.
As casas, encostadas umas às outras, são vestidas por diversas cores já gastas e pontuadas por característicos vãos que recortam as memórias de toda a sua existência
Subindo a Calçada do Tijolo avistamos as escadinhas que nos levam ao Condomínio da Vinha, nome concedido pela rua que lhe dá acesso.
Paralela à Rua da Vinha, a Rua Nova do Loureiro define a outra frente e a entrada do piso da garagem.
O edifício insere-se de forma harmoniosa no quarteirão respeitando a lógica de cheios e vazios articulada pela fachada com frente para a Rua da Vinha e pelos logradouros a tardoz, na Rua Nova do Loureiro. Parece ter existido naquele lugar desde sempre.
Este apresenta um piso semi-enterrado, 3 pisos acima do solo e ainda um piso amansardado e confirma o uso dominante desta área sendo exclusivamente de habitação.
A volumetria dá continuidade à envolvente e adapta-se ao terreno, subdividindo o todo em dois volumes desnivelados, preenchidos por duas manchas de cor que completam a paleta existente nos tons rosa e verde pálidos, na frente que dá para a Rua da Vinha.
Desta forma é reduzido o impacto do conjunto e conferida a escala necessária ao enquadramento nas unidades arquitectónicas que compõem o Bairro.
A tardoz, a fachada deixa-se dominar na íntegra pelo revestimento que, na fachada principal, apenas define as cantarias – a pedra de lioz – em peças com dimensões de azulejos antigos.
A área ocupada pela monomassa na cor rosa estende-se para a Calçada do Tijolo e dobra para Rua Nova do Loureiro, preenchendo o muro que define o limite do lote.
Os vãos, em caixilharia de madeira, dão unidade à intervenção. Apresentam uma métrica regular e uma proporção e desenho idênticos entre si e que são uniformizados pela imagem obtida através de portadas exteriores cinzentas, em compacto fenólico, que encaixam no recuo das janelas de peitoril e sacada.
A leitura deste edifício é influenciada pela distância do observador ao objecto, numa qualidade de adaptação ao tempo e ao espaço.
A longa distância denota uma total integração no contexto através de uma capacidade quase mimética em relação às pré-existências. No entanto, só através de uma aproximação ao mesmo esta vai sendo acompanhada por uma profunda percepção da sua época, através das subtilezas de desenho, dos acabamentos e detalhes construtivos, que marcam uma posição igualmente concordante mas actual.
Esta intervenção respeita a memória deste Bairro Histórico e aproxima o objecto á escala e ao espírito do lugar, reinventando gestos de uma arquitectura tradicional numa linguagem arquitectónica contemporânea.