Implantado num lote de forma esguia no sentido Norte-Sul, o projecto nasce com o intuito de criar uma habitação de piso único.
A tipologia foi definida em função da melhor exposição solar, não fosse esta uma das riquezas deste país mediterrânico. Como tal, todos os quartos são orientados a nascente, a sala a sul (local de maior permanência), a cozinha a poente e garagem a norte onde a funcionalidade foi a simbiose do projecto.
Tendo o proprietário uma ligação profissional ao sector florestal, levou-nos a procurar fontes de inspiração na região. Estamos na zona oeste do país, próximo da cidade de Leiria que é distinguida por ser terra de madeireiros e das míticas florestas (criadas pelo rei D.Dinis com o intuito de proteger a cidade das tempestades de areias provenientes dos ventos da costa atlântica) este foi, o ponto de viragem do projecto que nos permitiu tirar partido da cofragem tradicional em tábuas de pinho, utilizado no betão descofrado à vista em paredes nucleares da habitação.
A simplicidade do projecto manifesta-se pela torção de volumes, criando de forma clara um pátio de entrada que indica discretamente o acesso pedonal e principal da casa. Estas indicações são dadas ao observador pela forma curvilínea das paredes em betão descofrado.
Tal como na fonte de inspiração utilizada, o projecto resultou de uma metamorfose constante entre o moderno, frágil, minimalista e o tradicional, rude, exuberante. Assim foram ligados elementos como a cofragem em madeira tosca do betão à vista e a criação de formas curvilíneas e modernas, entre a coloração a negro do betão e o reboco branco tradicional, entre fachadas em xisto preto e calçada à portuguesa e entre volumes de forma maciça com finas palas de protecção solar e longos envidraçados.
Em resultado deste exercício nasce uma tipologia de habitação unifamiliar, que se demarca das demais pela sua presença discretamente arrojada, nunca renegando as raízes profundas da sua cultura.