A criação da Casa da Cultura de Pinhel veio permitir a reabilitação do primeiro piso e pátio do antigo Paço Episcopal da cidade, um edifício do século XVIII que, ao longo dos tempos, principalmente no seu interior, foi alvo de inumeráveis modificações que o foram acomodando às suas também inumeráveis funções (Episcopado, Quartel Militar, Sede da Polícia, Escola, Residência de Estudantes). O Paço habituou-se a ser um edifício evolutivo e desfigurado. A proposta de projecto, partindo dessa premissa, quis ser mais um tempo dessa evolução mas, em sentido inverso, para trazer de volta a nobreza e a coerência que lhe fora sendo roubada especialmente ao longo dos século XX.

De forma crítica, pelo estado em que encontrámos o interior do edifício, cruzando-se também com a necessidade de uma intervenção económica e temporalmente viável, a demolição e a exploração espacial das texturas dessa demolição tornaram-se tema de projecto.

O projecto centrou-se, assim, no equilíbrio entre a permanência e recuperação dos seus traços originais mais bem guardados (a escadaria monumental e o tecto de gesso trabalhado) e uma grande operação de subtracção, limpeza e extracção de todos os elementos supérfluos que foram descaracterizando os interiores ao longo dos tempos. Finalmente, sobreposta a essa demolição, houve uma uniformização cromáticas através da pintura de todas as superfícies, assumindo-se as várias texturas e cicatrizes sem acabamento. 

Todos os elementos novos (iluminação, infra-estruturas e reforços estruturais) foram, ao invés, assumidamente expostos e tratados como uma adição  e propositadamente regrados e uniformizados repondo uma necessária leitura de rigor.

Por fim, jogando ainda com a ideia de demolição e história do edifício, todo o mobiliário foi recuperado ou desenhado e construído a partir de elementos em madeira demolidos do edifício e também uniformizados pela cor dentro da coerência e estratégia de projecto.

Ficha Técnica

Arquitectura: depA Architects (Carlos Azevedo, João Crisóstomo, Luís Sobral)

Especialidades: CPX, Edgar Brito, Ncrep

Projecto Museugráfico: Glorybox

Fotografia: José Campos