No alto Alentejo, entre oliveiras centenárias que ainda hoje conseguem cumprir o seu papel de nos dar o seu bem mais precioso, a azeitona, nasce esta casa que, de um modo tão singelo, se implanta no meio de um terreno que, por si só, nos arrebata com a privilegiada localização, cor, topografia, aroma e flora.
A casa tem uma beleza intrínseca, típica da simplicidade do seu desenho e geometria, que nos transporta imediatamente para toda e qualquer memória de um alentejo profundo.
A sua importância arquitectónica resume-se à sua geometria volumétrica e à sua fachada principal, com os elementos que a caracterizam: a sua espessura que revela uma construção tradicional de alvenaria de pedra, as portas verticais que marcam um ritmo e a chaminé tão caracteristicamente alentejana na qual se pode ler a data de construção da casa.
Se são desprovidos de qualquer qualificação arquitectónica o restante das paredes que compõem o monte pela sua fraca qualidade construtiva, bem como pela inexistência de qualquer elemento que as torne significativas, a força do conjunto é mais do que suficiente para nos deixar marcas e memórias que nos fazem ter vontade de lá voltar.
Em resumo, pretende-se valorizar aquilo que de melhor reconhecemos: a volumetria, que com imensa simplicidade e descrição se ajusta às pequenas nuances do terreno, a fachada principal marcada pel ritmo das portas e a sua chaminé inegavelmente alentejana.
O objectivo é criar quatro fogos independentes que, pela sua proximidade e modo como se relacionam, conseguem ter uma comunicabilidade fácil e ao mesmo tempo manter a sua independência e privacidade.
Um arco, prolongado em abóbada, leva-nos a entrar pela volumetria da casa que se tinha anunciado. Por ele, chegamos a um pátio que reconhecemos desta região pelas suas características, cores e texturas materializadas em bancos de pedra, paredes brancas caiadas, calçada de pedra da região e portas de madeira pintadas num azul que não se encontra noutro lado. Aqui, temos as entradas para as habitações.
As casas, simples e com tipologias de T1 e T0, viram-se cada uma para uma vista única e independente.
O fogo que aproveita a lareira de chão pré-existente, um T1 que se vira para nascente, tira partido das aberturas da fachada principal para iluminação natural e vistas das oliveiras que enchem o lote.
Outro T1, simétrico, vira-se para poente e tira partido das vistas para o tanque e poço.
Os apartamentos de tipologia T0 viram-se ambos para sul, ainda que com enquadramentos diferentes. Se um aproveita a beleza que as oliveiras lhe proporcionam potenciadas pelo dramatismo que o desnível do vale lhes confere, o outro emoldura-se pelas duas figueiras magistrais que conseguem criar um ambiente único e inesperado no meio daquela paisagem.
Todos os fogos se apresentam equipados com uma sala com kitchenette aberta para a zona de jantar.
Em suma, uma reinterpretação do monte existente, com funcionalidade e habitabilidade melhoradas, mantendo as suas qualidades intrínsecas. Um adaptação à nova realidade programática e uma nova maneira de estar no Alentejo.