HERDADE VALMONTE HOTEL, pedro quintela studio pedro quintela studio Casas rústicas
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Após ter completado o Diploma e o Mestrado em Arquitectura na Escócia na Universidade Edinburgh College of Art, passei um ano bem descontextualizado a colaborar no megalómano atelier de Arquitetura da empresa multinacional Hok no centro de Londres. Só voltei a encontrar descanso após regressar a Portugal, abrigado na casa de um familiar, na pacata aldeia da Azoia, em Sintra, no ano 2000.

Nesta zona descobri uma obra, com a qual me identifiquei totalmente. Visitei-a e conheci seu génio criador, João Kadik. A partir desse dia, o percurso da minha vida tomou um novo rumo. Encontrei no João um ser indiscritível que, após a dispersa experiência dos mega projetos feitos em Londres, ajudou-me a reconectar na prática a poética Arquitectura tão exemplarmente ensinada na Escócia, pelo meu Mestre Dr. Faozi Ujam.

Entre tantas obras visitadas com o João, as mais emblemáticas foram a própria obra onde nos conhecemos, O Convento Saturnino na Azoia e a Herdade Valmonte, em Borba. Logo desde o nosso primeiro encontro, o perspicaz João percebeu-se da paixão e entusiasmo também partilhados por este seu novo discípulo com respeito ao restauro de ruínas. A partilha de seus infinitos ensinamentos foram compreendidos e absorvidos com toda a receptividade.

Três visitas conjuntas a Borba penso terem sido pré-programadas pelo João. A primeira para conhecer o local, o cliente e a equipe. A segunda para me explicar o seu conceito. E a terceira, para me entregar o trabalho em mãos, ainda antes de iniciar a obra.

Na altura, um pouco baralhado com o valor e a envergadura desta obra ainda me aventurei numa segunda experiência de trabalho em atelier para colaborar com o Arquitecto Álvaro Siza Vieira, no Porto. Era uma oportunidade que já programava desde antes de vir de Londres e que entretanto se desbloqueou através de uma cunha. Fui provavelmente o Arquitecto que menos tempo lá colaborei, não chegou a seis meses. A essência do que fazia como um “técnico” que desenhava as ideias de um outro Arquitecto, não me satisfazia absolutamente. Desde cedo apercebi-me que o pretendido contacto intimista com o Arquitecto era mínimo e os ensinamentos que dali nasceriam não seriam os pretendidos. Em reunião pessoal com o Arquitecto Siza Vieira, foram mostrados os longos desenhos de Borba nos quais trabalhava todas as noites e em comum acordo, um par de dias depois dei o meu lugar no Atelier a outro jovem sonhador. A partir de então podia-me focar nesta minha obra tão especial, a primeira!

Em Borba tudo era feito com as mãos na massa. Até os esquiços eram desenhados em obra. Borba foi um projecto vivo! Crescia connosco ao lado. Pensava-se, desenhava-se, discutiam-se as ideias e concretizava-se. Aqui não dependia de nenhum patrão Arquitecto. Eu era o Arquitecto! Assim criava também o João, o qual despertou em mim esta maneira de trabalhar, de viver! De forma verdadeira, sincera e apaixonada.

João Kadic adoeceu rapidamente de forma crónica e por isso, sem eu ter entendido, passara-me para as mãos este grandioso trabalho com uma confiança total. Ele não teve a oportunidade de acompanhar o processo da obra, embora um dia ainda conseguiu fazer uma histórica visita à obra de ambulância para ver o que tinha sido feito e se despedir da mesma. Por isso também, dei o meu melhor na concretização deste trabalho. Por respeito a quem confiou em mim o que mais pretendia fazer naquela altura: Arquitectura.

A Herdade Valmonte foi a minha primeira obra. Aqui muito aprendi em termos práticos, pessoais e relacionais, sobretudo com o entusiasta cliente, com a incansável equipe que acompanhou a obra desde o primeiro dia e também sobre a minha peculiar relação com a profissão.

Após quatro intensos anos de obra, entre os quais um dos deles esteve parada devido a entraves burocráticos, hoje tenho o privilégio de visitar pontualmente esta obra à que intimamente costumava chamar-lhe O Bicho. Este nome resultava da forma de seu grande e comprido corpo pousado na terra e meu profundo desejo de o conseguir “domar” com perseverança enquanto ele crescia. Sinto-me extremamente satisfeito ao constatar que nesta obra nada mudava. Dei o meu melhor e essa foi a verdade intemporal daquele momento.

Ao dar por acabada a minha colaboração na obra lembro de me sentir tão esgotado assim como satisfeito com o seu resultado. Totalmente realizado como Arquiteto na primeira obra. Aqui tivera sintetizado toda a minha experiência, conhecimento e sabedoria como se trata-se da última obra. Foi mesmo assim que a encarei, embora fosse a 1ª obra, olhava para ela como sendo a última! No entanto, talvez como uma Mãe que após o parto habitualmente não pretende ter mais filhos devido às imensuráveis dificuldades do processo, logo me esqueci também do que dissera, e repeti a proeza do privilegio de “dar à luz” outras filhotas.

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